É comum em todo o mês de dezembro a publicação de listas com os melhores filmes, séries, atores, entre outros destaques que marcaram o setor cultural ao longo do ano. Além desse ranking tradicional, o jornal The New York Times, que já havia eleito o brasileiro O Agente Secreto como um dos melhores filmes do ano, fez um novo apanhado exaltando as melhores atuações do cinema em 2025, porém, mirando detalhes muito específicos. As “categorias” contam com elogios ao “melhor monólogo”, “melhor surto” e “melhor solidão”, por exemplo.
Assim, a publicação exaltou dois atores do filme nacional — e exemplificou muito bem a razão que tem feito de Wagner Moura uma das atuações mais elogiadas do ano. Antes de falar do ator baiano, o jornal escolheu Tânia Maria, que interpreta dona Sebastiana no filme, como a “melhor atuação com cigarro”. “Na primeira metade de O Agente Secreto, essa mulher aparece em uma rua e preenche o enquadramento. Enquanto ela está ali, esperando, você pensa: eu espero que esse filme saiba que deve dar muita atenção para essa personagem”, diz o início do texto sobre Tânia. “Ela é uma dona de verdade, mas única e idiossincraticamente glamourosa em seu vestido florido e óculos escuros. A razão pela qual ela se impõe é que ela segura um cigarro com a boca e o fuma com força. Ela maneja o cigarro como idosos convencionais usam uma bengala. Com um olhar, notei: eu estou fumando ela.”
O crítico Wesley Morris, que assina o texto, então elogia o diretor Kleber Mendonça Filho pelo espaço que ele dá às pessoas do elenco. “Tânia Maria se torna mais do que uma personagem secundária, sendo a matriarca de uma casa que abriga refugiados políticos, resistentes à brutalidade da ditadura militar do Brasil (…). O cigarro de Maria é um triunfo da personalidade sobre as circustâncias; diz: ‘se eu posso vencer esses cigarros, posso vencer essa ditadura’. Que atalho poderoso para entender a passagem dela pelo mundo.”
Já sobre Wagner Moura, protagonista da trama, o jornal ressalta o fato de que o ator interpreta três personagens. Um deles é o Marcelo que é de cara apresentado ao público, o homem que chegou a Recife para buscar o filho e fugir do país. Na verdade, ele esconde outra identidade, Armando, um professor universitário perseguido. Assim, Moura interpreta Armando e, ao mesmo tempo, essa espécie de alterego que é o Marcelo encarnado por Armando para sobreviver. Ao fim do filme, ele ganha um terceiro papel. “Moura interpreta duas versões do mesmo homem. Ao fazer isso, ele causa um peso geológico estratégico, um vulcão fingindo ser uma pedra antiga, pois um homem que consegue manter a calma nesse cenário talvez — talvez — consiga manter a própria vida”, escreveu o jornalista. Sobre o papel final, ele destrinchou: “Tudo o que Moura faz é processar um monte de novas informações. Mas vê-lo absorver e processar tudo é o mais perto que a atuação já chegou da arte em lapso de tempo.”
