No último dia dois de dezembro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, ele e a presidenta da Petrobras, Magda Chambriad, receberam um recado direto dos trabalhadores. “A Petrobras que defendemos olha para as necessidades do povo e para os seus trabalhadores”, discursou Cibele Vieira, dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP). “Estamos lutando para que a riqueza gerada por nós tenha uma distribuição justa para os trabalhadores efetivos, prestadores de serviço e os que vieram antes de nós, hoje aposentados”, afirmou ela, olhando diretamente para Lula.
Lula visitava a Rnest, no polo industrial e portuário de Suape, para um ato simbólico de assinatura de contrato para a ampliação do Trem 2 da indústria, que pode ampliar a capacidade de refino dos atuais 88 mil barris diários para 260 mil barris por dia, quando as obras estiverem totalmente concluídas, em meados 2029. “É um pleito pelo qual brigamos muito. Hoje já temos o canteiro pronto e as obras iniciadas”, explica Sinésio Pontes, trabalhador da Petrobras e presidente do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e Paraíba (Sindipetro). Planejada no governo Dilma Rousseff (2010-2016), a ampliação foi paralisada em 2015, por ordem da Operação Lava-Jato.
Apesar de chegar com boas notícias, ficou evidente para o presidente Lula e os presentes que os trabalhadores não estavam lá só para celebrar. “Sabemos que há uma diferença entre o governo e a gestão da empresa. Mas temos que cobrar, porque não faz sentido que esta seja a empresa mais pujante do país e os trabalhadores não sintam melhorias”, reclama Sinésio Pontes, em entrevista ao Brasil de Fato. “Os trabalhadores querem, merecem e precisam ser valorizados. E confiamos no presidente Lula para mudar isso na empresa”, completa o trabalhador petroleiro.
A principal demanda da categoria diz respeito aos funcionários aposentados e pensionistas da Petrobras, que dependem do fundo de previdência Petros. “Eles têm sido vítimas de um plano de equacionamento da previdência que, desde 2018, está corroendo o benefício deles. Já existe uma proposta de solução, mas que precisa da participação da Petrobras. Até agora a empresa não se mostrou disposta a participar da solução”, cobra Pontes. A demanda foi apresentada desde a volta de Lula à Presidência, em 2023. De janeiro a setembro de 2025, a Petrobras apresentou um lucro líquido de R$ 94,7 bilhões.
Na última semana, a Petrobras apresentou uma segunda proposta de acordo coletivo de trabalho (ACT), novamente sem contemplar as principais reivindicações dos trabalhadores, que são o fim dos planos de equacionamento de déficits (PEDs) da previdência; a reconquista de direitos e benefícios perdidos durante os últimos governos; e um plano mais ambicioso de expansão das operações da empresa, com maiores investimentos, gerando mais empregos e ocupando um papel ainda mais relevante na economia nacional.
Greve a partir desta segunda-feira, dia 15
Por não se sentirem que suas principais demandas foram atendidas, os trabalhadores do sistema Petrobras deflagraram o início de uma greve por tempo indeterminado a partir desta segunda-feira (15). Em Pernambuco, 91% dos trabalhadores votaram a favor da greve. “Na negociação temos visto que eles não estão dispostos a avançar. A empresa não quer”, lamenta Sinésio Pontes. “Além disso, a empresa tem adotado medidas visando reduzir os ganhos da categoria e tem feito tudo isso de forma unilateral, sem dialogar com a entidade representativa dos trabalhadores, que é o sindicato”, denuncia a liderança.
Sinésio afirma que a Petrobras “desconsidera os trabalhadores na conta da sua geração de riqueza” e, por isso, tem “desvalorizado” a categoria e postergado a reposição do efetivo da empresa. “Ela está atuando como uma empresa comum de mercado, distribuindo lucros e dividendos elevados aos acionistas, mas sem reverter esse lucro em melhorias para os trabalhadores”, completa o sindicalista. As demissões de prestadores de serviço terceirizados também irritam a categoria. O presidente nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Dayvid Bacelar, lembra que “os trabalhadores representam só 7% dos custos totais da empresa”.
Os representantes dos trabalhadores da Petrobras também cobram que o plano de negócios para o quinquênio que vai de 2026 a 2030 seja mais ambicioso. O plano apresentado pela presidenta Chambriard e aprovado pelo conselho da empresa prevê investimentos de US$ 109 bilhões, ou algo próximo dos US$ 22 bilhões ao ano, valor definido após um reajuste negativo de 1,8%. Ainda assim, o total representa cerca de 5% da previsão de investimentos que o Brasil deve receber no período. “A Petrobras deveria ser a mola propulsora da economia no Brasil”, opina Pontes.
Apesar das críticas à condução da Petrobras, o líder sindical reafirma o seu apoio ao atual presidente da República. “Os trabalhadores entendem que esse é o governo que mais se aproxima do que os trabalhadores desejam. Mas governo é governo, empresa é empresa e sindicato é sindicato”, inicia Sinésio, que é complementado por Cibele Vieira. “Este jaleco aqui virou símbolo de resistência não pela ação da empresa, mas pela luta dos seus trabalhadores. E aprendemos com o senhor a não abaixar a cabeça”, avisa Vieira.
