Um abaixo-assinado lançado nas redes sociais pede a revisão da decisão da Arquidiocese de São Paulo que determinou a suspensão das transmissões de missas e atividades do padre Júlio Lancellotti nas redes sociais. A mobilização também manifesta preocupação com a possibilidade de afastamento do religioso da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, onde atua há mais de 40 anos.
Conhecido nacionalmente por seu trabalho pastoral e social, padre Júlio Lancellotti é referência na defesa dos direitos das pessoas em situação de rua, desenvolvendo há décadas ações de acolhimento, distribuição de alimentos e escuta junto à população mais vulnerável da cidade de São Paulo. Para os apoiadores, sua atuação extrapola o espaço religioso e representa um compromisso contínuo com a dignidade humana.
No texto do abaixo-assinado, os signatários afirmam que a decisão causa “indignação e tristeza”, sobretudo diante do fato de que outros sacerdotes seguem realizando transmissões e atividades semelhantes sem sofrer restrições. A diferença de tratamento, segundo os organizadores, reforça a percepção de um critério desigual adotado pela Arquidiocese.
A mobilização ressalta ainda que, embora respeite a autoridade eclesiástica e as normas da Igreja Católica, decisões de natureza pastoral devem levar em conta o bem comum, a escuta da comunidade e a relevância do serviço prestado ao longo dos anos. Os apoiadores destacam que padre Júlio sempre atuou em consonância com os valores cristãos da justiça social, da solidariedade e do cuidado com os pobres.
O abaixo-assinado solicita, de forma respeitosa, que a Arquidiocese de São Paulo e o cardeal dom Odilo Scherer revejam a decisão, garantindo a continuidade do trabalho pastoral de padre Júlio Lancellotti tanto em sua paróquia quanto nos meios de comunicação que ampliam o alcance de sua atuação.
Segundo os organizadores, a assinatura do documento é apresentada como um gesto de apoio não apenas ao sacerdote, mas também a uma concepção de Igreja voltada para o acolhimento e a defesa dos que mais precisam.
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Padre Júlio tem transmissão de missas e redes suspensas por dom Odilo Scherer
O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, determinou que o padre Júlio Lancellotti deixe de transmitir missas ao vivo e suspenda todas as suas atividades nas redes sociais. A medida também abre a possibilidade de que o religioso seja retirado da Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, na zona leste da capital paulista, onde atua há mais de quatro décadas. Esta informação, no entanto, “ainda não se confirmou”.
A Fórum tentou contato com o padre Júlio. Através de sua assessoria, ele respondeu:
“Procede o fato dele tá proibido de usar as redes sociais e transmitir a missa pela internet. Mas o afastamento dele da São Miguel Arcanjo, isso ainda não está definido e o motivo nós não sabemos. É alguma coisa entre ele e o Dom Odílo”, informou.
Intensa repercussão
A decisão veio a público no último domingo (14), quando o próprio Lancellotti comunicou, durante uma celebração, que aquela seria uma das últimas missas transmitidas ao vivo. O anúncio provocou intensa repercussão em grupos de padres e religiosos que se comunicam por meio de aplicativos de mensagens.
Veja abaixo:
Padre Marcelo
A medida, ao que tudo indica, atinge apenas ao Padre Júlio. Segundo informações das redes sociais, as missas do padre Marcelo Rossi, por exemplo, continuam sendo transmitidas normalmente em vários canais, entre eles a Rede Globo, aos domingos de manhã.
As celebrações conduzidas por Lancellotti eram transmitidas pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), mantida por sindicatos, além do portal ICL e do YouTube. Procurado, o padre confirmou à coluna de Mônica Bergamo a determinação do cardeal.
“Dom Odilo me pediu para dar um tempo. Ele acha que é uma forma de recolhimento e de proteção”, afirmou Lancellotti. Questionado sobre sua posição em relação à decisão, o religioso disse que “tem apenas que obedecer”.
Existe a possibilidade de que dom Odilo Scherer decida pela retirada de Lancellotti da paróquia ainda neste ano. Sobre o tema, o padre afirma que a medida “ainda não aconteceu”, apesar de informações nesse sentido terem começado a circular em grupos de WhatsApp ligados à Igreja.
Lancellotti também explicou que, pelas normas da Igreja Católica, padres que completam 75 anos podem ser removidos das paróquias para se aposentarem. Ele completa 77 anos no próximo dia 27. Segundo o religioso, no entanto, há casos de padres que permanecem em atividade mesmo após os 80 ou 90 anos. “Depende da necessidade da igreja”, afirmou.
Perseguição
Conhecido pelo trabalho voltado à população em situação de rua na cidade de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti é alvo frequente de críticas de parlamentares e políticos ligados à direita. Na mais recente ofensiva, o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) divulgou um vídeo nas redes sociais informando que levou à Embaixada do Vaticano um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas pedindo o afastamento do religioso de suas atividades.
Nota do padre Júlio
Logo após a pulicação desta reportagem, o padre Júlio Lancellotti soltou uma nota em que corrobora com as informações publicadas aqui. Veja abaixo:
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