Fabiano Marques Dourado Bastos/Embrapa Cerrados
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A COP30 trouxe uma agenda intensa, e, ao meu ver, três temas se destacam como importantes avanços para a pecuária brasileira: a recuperação de pastagens degradadas, a consolidação do selo Carne Baixo Carbono e as novas projeções sobre o potencial de redução de emissões do setor até 2050.
São assuntos diferentes, mas que convergem para a mesma direção: eficiência produtiva e sustentabilidade caminhando juntas. Os avanços colocam a pecuária brasileira como peça decisiva para um futuro sustentável e não mais como vilã.
A pecuária brasileira passou por importantes avanços produtivos nas últimas décadas, com adoção de tecnologias e processos, produzindo cada vez mais animais com pastejo intensivo e terminando em confinamento. Contudo, ainda assim, estimamos fechar o ano com a produção de carne nacional com 8 milhões de cabeças terminadas em confinamento, representando cerca de 25% do gado abatido, enquanto os EUA terminam quase 100% dos animais em confinamento.
Aprofundando no tema de degradação de pastagens, é importante contextualizar que o Brasil tem pelo menos 95 milhões de hectares de pastagem com algum estágio de degradação, de leve a avançada.
Entre os mais avançados, cerca de 18 milhões ainda podem ser recuperados, sem necessidade de reforma. E outros quase 5 milhões de hectares estão totalmente degradados, exigindo revolvimento do solo e semeadura. Nesse último estágio são áreas que estão, além de pouco produtivas, ou até mesmo improdutivas, demandando alto investimento para reforma.
Em 2024, o processo de degradação de pastagens somou R$33,20 por arroba produzida durante 2024, segundo dados da Athenagro. Estima-se que o montante total somou R$26 bilhões aos pecuaristas no ano.
Acordo para análise de áreas de pastagens
O acordo Brasil-Japão selado na COP30, trata-se de um projeto em parceria com o MAPA e a Embrapa, que integra dados de satélites japoneses, saúde do solo e análise econômica para identificar áreas de pastagens em situações críticas, e orientar sua recuperação. A proposta é transformar áreas hoje improdutivas em sistemas produtivos e sustentáveis, sem abrir novas fronteiras.
Para o produtor, essa ação promete acesso a ferramentas mais precisas para diagnosticar o solo (ainda que o nível de assertividade da tecnologia seja um desafio), direcionar melhor o investimento e adotar práticas que aumentam o ganho por área, fortalecendo a produtividade no longo prazo.
Sabemos que existe uma grande complexidade desse recurso chegar até a ponta de maneira clara e eficiente, e ser de fato um apoiador da transformação, por isso temos que acompanhar de perto para que esse processo ocorra de maneira objetiva.
Carne de Baixo Carbono
Outro avanço importante apresentado na Conferência foi o selo Carne Baixo Carbono, desenvolvido pela Embrapa. O modelo certifica propriedades que atendem 20 critérios mínimos para adesão e promete valorização e retorno econômico ao produtor. Dados da nova calculadora de carbono da Embrapa indicam que propriedades que adotam o protocolo devem reduzir em média 35% a intensidade das emissões.
O modelo pode ser aplicado na maioria dos biomas brasileiros e já possui 700 fazendas mapeadas com potencial de adesão. A expansão do modelo já está prevista para outras cadeias, começando pela soja em 2026.
Além de reduzir emissões, o protocolo fortalece a rastreabilidade, transparência e a confiança do consumidor final. Me parece uma solução que funciona: simples, clara e eficiente para gerar resultado real. Agora é acompanhar a execução na prática.
Complementando essas iniciativas, as novas projeções para o setor são animadoras. Durante o evento, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), apresentou um estudo mostrando que, se mantido o ritmo atual de adoção de práticas eficientes, a pecuária brasileira pode reduzir em 79,9% as emissões de CO₂ por quilo de carne até 2050. Com medidas adicionais, como a própria recuperação acelerada de pastagens mencionada acima, essa redução pode chegar a 92,6%.
Aumento de produtividade na pecuária
Os resultados também reforçam o que temos acompanhado nos últimos anos: de 1990 até hoje, o setor aumentou sua produtividade em 183%, ao mesmo tempo em que reduziu em 18% a área ocupada por pastagens.
É um resultado que contraria discursos ultrapassados e mostra que a pecuária brasileira está avançando não apenas na redução de emissões, mas fortalecendo ao mesmo tempo produtividade e competitividade.
Vejo esses três avanços, o acordo Brasil-Japão, o selo Carne Baixo Carbono e as novas projeções de redução de emissões, como partes de um mesmo movimento. Os resultados da COP30 mostram que a pecuária não está na defensiva: está propondo soluções (ou até mesmo sendo a solução!), apresentando números consistentes e construindo, hoje, um futuro mais sustentável.
*Jaqueline Casale Pizzolato é zootecnista, diretora comercial e de marketing da Casale, empresa líder em equipamentos para pecuária. Com experiência internacional no setor, já trabalhou na JBS Austrália, Minerva Foods e BRF. Faz parte do Forbes Mulher Agro (FMA).
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