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A próxima missão de turismo espacial da Blue Origin promete marcar um capítulo inédito na história da exploração espacial. A engenheira Michaela Benthaus, conhecida como Michi, está confirmada no 37º voo do foguete New Shepard e será a primeira pessoa usuária de cadeira de rodas a cruzar a fronteira do espaço.
A decolagem está prevista para o próximo dia 18. Além de Benthaus, a lista inclui Joey Hyde, Hans Koenigsmann, Neal Milch, Adonis Pouroulis e Jason Stansell. O grupo se somará ao seleto conjunto de passageiros que já viajaram pela empresa de Jeff Bezos, um grupo de apenas 80 pessoas desde o início das operações comerciais.
A bordo a tripulação chegará até a Linha de Kármán demarcação internacional localizada a 100km acima do nível do mar. O limite não representa uma mudança física na atmosfera, mas é reconhecido por organismos internacionais como ponto de início do espaço.
Benthaus é engenheira aeroespacial e mecatrônica da Agência Espacial Europeia. Ela atua na defesa de mais acessibilidade no setor e já participou de programas de treinamento em ambientes análogos aos de astronautas, além de ter voado em gravidade zero. Seu embarque representa um avanço simbólico em uma área que historicamente excluiu pessoas com deficiência.
A Agência Espacial Europeia também discute formas de ampliar o acesso de pessoas com deficiência a missões de longa duração. O cirurgião e ex-atleta paralímpico John McFall integra a reserva de astronautas da agência após estudos que avaliaram como a microgravidade afeta o corpo de uma pessoa amputada. Os experimentos indicaram que viagens orbitais são possíveis com segurança. A próxima etapa é o estudo sobre o uso de próteses no ambiente espacial.
O tema da acessibilidade permanece distante das prioridades das principais agências espaciais, apesar de um quarto da população adulta dos Estados Unidos ter algum tipo de deficiência. Foram necessários mais de cinquenta anos de voos tripulados para que uma pessoa com deficiência física conquistasse um lugar em uma missão, e o feito ocorre por meio de uma empresa privada, não por um programa público.
A Blue Origin enfrenta críticas pela forma como conduz seus voos de turismo, especialmente após o lançamento que levou apenas mulheres e incluiu celebridades como Katy Perry e Gayle King. A iniciativa, apresentada como um marco sobre a presença feminina no espaço, acabou criticada por esvaziar o debate e transformá-lo em espetáculo.
O voo de Benthaus deve entrar para a história, mas ainda é incerto se terá força para impulsionar transformações estruturais no setor. A atual direção da NASA segue alinhada às diretrizes adotadas no governo Trump e removeu referências a diversidade, equidade e inclusão de seus programas. Esse movimento dificulta qualquer avanço institucional em políticas que contemplem pessoas com deficiência.
Para além do caráter simbólico, a viagem da engenheira recoloca na agenda a discussão sobre quem tem acesso ao espaço e quem continua excluído das fronteiras tecnológicas que deveriam servir à humanidade como um todo.
Com informações “IFL Science”.
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