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Pequim aplica medidas contra ex-chefe militar japonês

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O governo da China anunciou, nesta segunda-feira (15), sanções contra o ex-chefe do Estado-Maior das Forças de Autodefesa do Japão, Shigeru Iwasaki, acusado de “conspirar com forças separatistas de Taiwan”. Segundo o Ministério das Relações Exteriores chinês, a medida foi tomada após sucessivas queixas diplomáticas apresentadas ao governo japonês desde março de 2025, quando Iwasaki assumiu o cargo de “consultor político” do governo taiwanês.

Pequim afirma que Tóquio foi alertado repetidamente de que a nomeação violava o princípio de Uma Só China, base das relações diplomáticas sino-japonesas. Como não houve correção por parte do Japão, a China decidiu aplicar sanções com base na Lei Antissanções Estrangeiras, em vigor desde 10 de junho de 2021.

As medidas incluem proibição de entrada na China continental, Hong Kong e Macau, além do congelamento de bens e da suspensão de qualquer cooperação com entidades chinesas. Pequim destacou que as sanções se limitam a Iwasaki, sem atingir o governo japonês ou outras autoridades.

Segundo a chancelaria chinesa, o caso representa ingerência de atores externos em assuntos internos da China, com o Japão e as autoridades taiwanesas na linha de destaque, e reafirmou que a questão de Taiwan é uma linha vermelha que não pode ser cruzada. Em comunicado oficial, o Ministério das Relações Exteriores da China chegou a classificar a nomeação do ex-comandante militar como assessor político do governo de Taiwan um gesto de extrema gravidade.

Shigeru Iwasaki é um oficial militar japonês de carreira. Formado na Academia Nacional de Defesa do Japão, serviu como piloto de caça F‑15 Eagle e ocupou diversos cargos estratégicos antes de se tornar Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças de Autodefesa, de janeiro de 2012 a outubro de 2014, a posição militar mais alta do Japão, logo abaixo do primeiro-ministro e do ministro da Defesa.

Após a aposentadoria, Iwasaki manteve influência em assuntos de defesa, atuando como consultor e assessor em organizações ligadas à segurança e tecnologia militar. Sua experiência estratégica e conexões políticas tornam sua nomeação em Taiwan particularmente sensível para Pequim.

Desde março, Pequim afirma ter apresentado diversas representações diplomáticas ao governo japonês ao longo de março, abril e maio, advertindo que a atuação de Iwasaki ultrapassava os limites aceitáveis das relações sino-japonesas e violava compromissos políticos assumidos bilateralmente além de configurar ingerência externa.

Pequim também criticou o governo de Taiwan por colaborar com atores estrangeiros. Segundo a chancelaria, a nomeação de Iwasaki “legitima forças separatistas com apoio externo”. Para o governo chinês, qualquer contato oficial do governo taiwanês com militares estrangeiros é visto como ingerência direta nos assuntos internos da China.

Medidas contra Iwasaki não atingem o Japão

As sanções contra Shigeru Iwasaki foram impostas com base na Lei Antissanções Estrangeiras da China, legislação criada para responder a ações externas consideradas prejudiciais à soberania, à segurança e aos interesses de desenvolvimento do país.

Segundo o comunicado oficial, as medidas incluem:

  • Proibição de entrada na China continental, em Hong Kong e em Macau;
  • Congelamento de eventuais ativos mantidos em território chinês;
  • Proibição de qualquer tipo de cooperação ou transação entre Iwasaki e indivíduos ou organizações chinesas.

As autoridades chinesas enfatizaram que as sanções são estritamente direcionadas ao indivíduo, não se estendendo ao governo japonês nem a outras instituições do país, numa tentativa de evitar uma escalada diplomática mais ampla.

Tensionamento diplomático

O caso ocorre em um contexto de crescentes tensões no Leste Asiático, em que Japão e Estados Unidos são vistos por Pequim como atores de ingerência externa. Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, Washington intensificou vendas de armas e contatos militares com Taiwan, contrariando os três comunicados conjuntos sino-americanos (1972, 1979 e 1982). Pequim considera essas ações um evidente estímulo às forças separatistas e fonte de instabilidade.

Outro episódio de tensionamento das relações entre as nações aconteceu há pouco mais de um mês, em 7 de novembro de 2025, quando a primeira-ministra japonesa Sanae Takaichi declarou no parlamento que uma eventual crise em Taiwan poderia representar uma “situação que ameaça a sobrevivência do Japão”.

O governo chinês respondeu que a fala exagera as tensões, encoraja separatistas e configura ingerência externa direta. A Xinhua classificou a declaração como “provocativa e irresponsável, prejudicando a estabilidade regional”.

Para Pequim, o caso de Iwasaki, a atuação do governo de Taiwan e as declarações de autoridades japonesas enviam um recado claro: a China não tolerará interferência ou ingerência externa, seja do Japão, dos EUA ou de Taiwan, que violem sua soberania.

O governo chinês reafirmou seu compromisso com a reunificação pacífica, mas advertiu que seguirá adotando medidas firmes contra qualquer ação que comprometa a paz, estabilidade e desenvolvimento da região da Ásia-Pacífico.

Taiwan e o princípio de Uma Só China

Para o governo chinês, Taiwan é parte inseparável da China. Desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949, a ilha permanece administrada separadamente, mas não é reconhecida como Estado independente pela ONU. A Resolução 2.758, aprovada em 25 de outubro de 1971, reconhece a República Popular da China como único representante legítimo do país, incluindo Taiwan.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão cometeu uma série de crimes de guerra, incluindo massacres de civis, trabalhos forçados e experimentos humanos em territórios ocupados, como a China, Coreia e Sudeste Asiático. Estima-se que mais de 20 milhões de civis tenham morrido devido a essas ações, que permanecem como marcos da brutalidade do expansionismo japonês.

A guerra de resistência do povo chines contra a invasão japonesa e o fascismo, desempenhou um papel decisivo na derrota do Japão e na responsabilização de militares por suas atrocidades, como nos julgamentos de Tóquio (1946‑1948).

Para Pequim e outras capitais asiáticas, esses eventos permanecem um alerta histórico sobre a preservação da soberania e a luta contra agressões externas. Durante essa época, Taiwan também foi invadido e ocupado pelo império japonês.

O Japão normalizou relações com Pequim em 29 de setembro de 1972, assumindo oficialmente o compromisso com o princípio de Uma Só China, que estabelece a existência de apenas uma China no mundo, da qual Taiwan é parte inseparável. Além disso, nessa lógica, o governo de Pequim é o único representante legítimo da China nas relações internacionais. O princípio tem origem na guerra civil chinesa (1927‑1949), quando o Partido Comunista Chinês criou a República Popular da China no continente, enquanto o governo da República da China se refugiou em Taiwan.

Desde então, Pequim considera qualquer reconhecimento internacional de Taiwan como uma violação da soberania chinesa. O princípio foi formalmente adotado em acordos diplomáticos, como a normalização das relações sino-japonesas em 1972, e continua a servir de base para que a China justifique sua política externa e respostas a ingerências estrangeiras envolvendo a ilha.

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