O hábito de jogar papel higiênico no vaso sanitário, comum em muitos países, é uma das principais causas de entupimentos, mau cheiro e altos custos de manutenção em residências brasileiras. O problema vai muito além do costume, sendo uma consequência direta das limitações da infraestrutura de saneamento do país.
Entender os fatores técnicos que tornam essa prática arriscada ajuda a proteger seu encanamento, economizar dinheiro e reduzir o impacto ambiental. Veja por que seu sistema hidráulico não foi projetado para lidar com as fibras de celulose.
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1. Por que a infraestrutura brasileira não suporta o papel?
A maioria das tubulações internas no Brasil foi dimensionada apenas para dejetos líquidos e orgânicos. Mesmo em áreas urbanas, as redes apresentam características técnicas que impedem a passagem eficiente do papel:
Diâmetros reduzidos: A espessura das tubulações é, em geral, menor, o que facilita o acúmulo de qualquer material fibroso.
Curvas e baixa pressão: O papel se deposita facilmente em múltiplas curvas e a baixa pressão da descarga é insuficiente para empurrar resíduos mais densos.
Tubulações antigas: Modelos mais velhos de encanamento têm superfícies internas irregulares, atuando como “ganchos” que retêm as partículas de papel.
2. Sobrecarga de fossas sépticas
Mais de 40 milhões de brasileiros utilizam fossas sépticas, muitas delas antigas ou mal dimensionadas. Para essas estruturas, o descarte de papel é especialmente danoso, pois as fossas foram criadas para digerir apenas matéria orgânica.
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O papel higiênico, ao entrar na fossa:
- Reduz a eficiência: Prejudica a digestão bacteriana essencial para o tratamento.
- Acelera o enchimento: Causa a sobrecarga rápida do sistema.
- Gera custos: Exige limpezas e esgotamentos muito mais caros e frequentes.
3. Tipos de papel mais perigosos para o encanamento
Embora o papel higiênico simples seja projetado para desmanchar, sua dissolução não é imediata e falha em sistemas hidráulicos com pouca vazão. O risco aumenta consideravelmente com outros tipos de papel:
- Folhas múltiplas: Papéis duplos ou triplos são mais espessos e resistentes à água.
- Papel toalha: Contém fibras longas e aditivos que o tornam altamente resistente à desintegração.
- Lenços umedecidos: Mesmo com o rótulo “flushable”, esses lenços raramente se desfazem a tempo de evitar entupimentos e são um dos piores inimigos da rede de esgoto.
4. Impactos ambientais: de córregos a aterros
Quando o papel não se dissolve ou causa entupimento, o transtorno se estende para o meio ambiente. O descarte incorreto sobrecarrega as estações de tratamento e pode levar a:
Poluição hídrica: Fibras de papel não tratadas chegam a córregos e rios, causando danos à fauna e flora.
Aumento de resíduos sólidos: Quando o papel descartado na lixeira, ele vai para aterros sanitários. Embora pareça um problema, em aterros controlados sua decomposição é manejada, enquanto o papel jogado no vaso sobrecarrega o sistema de saneamento, que é muito mais sensível.
5. A solução simples e definitiva para o Brasil
Diante das limitações técnicas, a solução mais segura e econômica para a esmagadora maioria dos lares brasileiros é o uso da lixeira com tampa ao lado do vaso sanitário. Essa prática simples:
- Evita entupimentos: Preserva a tubulação e evita gastos inesperados.
- Prolonga a vida útil: Reduz o esforço do sistema hidráulico e de fossas sépticas.
- É econômica: Elimina a necessidade de serviços de desentupimento caros.
O “hábito cultural” de usar a lixeira é, na verdade, uma medida de segurança e responsabilidade adaptada à realidade da nossa infraestrutura.
