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Porque é que a Rússia quer o Donbass da Ucrânia?

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Quando a Rússia invadiu a Ucrânia pela primeira vez em 2014, rapidamente anexou a Crimeia e enviou as suas tropas para as regiões orientais da Ucrânia.

O principal alvo de Moscovo era o Donbass, a área que inclui duas das regiões da Ucrânia, Donetsk e Luhansk.

Passados mais de dez anos, a Rússia continua a tentar obter o controlo total do Donbass, impondo as suas exigências territoriais no “quadro de paz”, mediado pelos EUA.

Washington aumentou a pressão sobre Kiev, forçando a Ucrânia a fazer concessões significativas, enquanto o compromisso da Rússia seria “simplesmente parar de lutar”, disse anteriormente o presidente dos EUA, Donald Trump.

“Eles (os russos) estão a fazer concessões. A sua grande concessão é deixarem de lutar e não tomarem mais terras”, afirmou Trump.

Espera-se que a Ucrânia faça concessões significativamente maiores, sendo as garantias de segurança, o estatuto da central nuclear de Zaporíjia e o Donbass os pontos mais sensíveis das negociações.

Moscovo não reduziu as suas exigências e quer que a Ucrânia abandone a região do Donbass, incluindo partes das regiões de Donetsk e Luhansk que a Rússia não conseguiu ocupar ao longo de mais de uma década de guerra.

O assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, que alegadamente trabalhou na proposta inicial de 28 pontos da Rússia, declarou de forma enganosa, na sexta-feira, que “todo o Donbass pertence à Rússia”.

De acordo com o plano divulgado, Moscovo não só quer que a Ucrânia se retire dos seus próprios territórios, como também quer que os EUA reconheçam o Donbass como russo**.**

Quem controla o Donbass?

Após mais de uma década de ataques das tropas russas, a região ucraniana de Luhansk está quase totalmente ocupada por Moscovo.

Mas a situação é diferente na região de Donetsk, onde as forças ucranianas detêm atualmente cerca de 6.600 quilómetros quadrados.

De acordo com o grupo de reflexão do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW na sigla em inglês), sediado nos EUA, mesmo com o ritmo atual dos avanços e com o enorme empenhamento de recursos, as forças russas só poderiam tomar o resto da região de Donetsk em agosto de 2027.

Esta zona está também fortemente fortificada pelas tropas ucranianas, após mais de uma década de defesa feroz contra a ofensiva russa.

Kiev tem vindo a reforçar continuamente a sua “cintura de fortaleza” do Donbass, que se estende por 50 km através da parte ocidental de Donetsk.

“A Ucrânia passou os últimos 11 anos a investir tempo, dinheiro e esforços no reforço da cintura de fortaleza e na criação de infraestruturas industriais e defensivas significativas”, afirma o ISW.

Após a ocupação russa de várias cidades na Ucrânia, incluindo Avdiivka e Bakhmut, Kiev ajustou a sua linha de defesa e reforçou ainda mais a sua rede de fortificações, trincheiras, campos minados e barreiras anti-tanque.

Potencial económico do Donbass

Antes da primeira invasão russa em 2014, o Donbass era a potência económica da Ucrânia. Esta zona albergava as maiores empresas industriais do país, incluindo fábricas metalúrgicas, de carvão e químicas que exportavam para todo o mundo.

O Centro de Investigação Económica e Empresarial, com sede em Londres, estima que a região do Donbass representava cerca de 15,7% do PIB da Ucrânia e 14,7% da sua população antes de 2014.

Após a invasão russa, entre 2014 e 2021, a Ucrânia perdeu mais de 80 mil milhões de euros devido à ocupação deste território por Moscovo, ou seja, cerca de 8% do PIB do país antes da guerra, por ano.

No início deste ano, a última mina de carvão em funcionamento na Ucrânia foi forçada a encerrar na região.

Entretanto, os EUA procuraram estabelecer uma “zona económica livre” em partes do Donbass que a Ucrânia controla atualmente, disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, acrescentando que Washington quer que Kiev se retire desses territórios.

A Ucrânia vai retirar-se do Donbass?

Zelenskyy explicou na quinta-feira que os EUA sugerem que a Ucrânia se retire do Donbass e que as tropas russas não avancem para o território.

Não se sabe quem vai governar este território, que eles chamam de “zona económica livre” ou “zona desmilitarizada”.

“Se as tropas de um lado tiverem de recuar e as do outro lado ficarem onde estão, o que é que vai deter essas outras tropas, os russos? Ou o que os impedirá de se disfarçarem de civis e tomarem conta desta zona económica livre? Tudo isto é muito grave”, declarou Zelenskyy.

“Não é um facto que a Ucrânia concorde com isso, mas se estamos a falar de um compromisso, então tem de ser um compromisso justo”.

Zelenskyy explicou que, se a Ucrânia concordasse com esse esquema, teria de haver eleições ou um referendo para o ratificar, dizendo que só “o povo ucraniano” poderia tomar decisões sobre concessões territoriais.

Entre 2014 e 2021, pelo menos dois milhões de ucranianos foram forçados a fugir das suas casas no Donbass devido aos combates, de acordo com dados da ONU. Aproximadamente o mesmo número de pessoas continuou a viver sob ocupação russa.

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