Home » PT busca ampliar presença no território com núcleos de base e concentra esforços para vitória no Congresso

PT busca ampliar presença no território com núcleos de base e concentra esforços para vitória no Congresso

by admin

Reestruturar um partido do tamanho do PT não é fácil. A sigla tem hoje 2,9 milhões de filiados e uma estrutura consolidada, mas que, para a direção nacional, precisa de oxigenação e um novo impulso. Parte fundamental dessa reformulação foi apresentada em um documento interno no dia 7 de dezembro e será discutida no 8º Congresso Nacional que será realizado em abril. 

O foco é claro: ampliar cada vez mais a capilaridade do partido. Hoje, o PT tem 4.865 dirigentes de diretórios municipais e estaduais, mas a meta é conseguir ter uma participação ainda maior, especialmente nos bairros e municípios. A ideia do Congresso é construir uma tática política para que o partido esteja no território. Para isso, é preciso aumentar os núcleos de base, estruturas de pelo menos nove filiados organizados pela geografia, trabalho, movimento social ou estudantil, ou área de interesse.

Essa presença no território foi fundamental para as vitórias eleitorais em países vizinhos. No Uruguai, a Frente Ampla formou os chamados comitês de base, que garantiram não só a eleição presidencial, como a maioria nas duas casas do Legislativo, algo que hoje está no centro da estratégia do PT para 2026. O instrumento é uma forma que os partidos de esquerda do Uruguai construíram para manter um contato permanente com todos os bairros do país, recebendo demandas e conhecendo o território com profundidade.

Outro exemplo importante da região é o México. O Movimento Regeneração Nacional (Morena) construiu a partir de 2015 um comitê em cada seção eleitoral. Isso instrumentalizou os militantes, aproximou a legenda dos eleitores e conseguiu conquistar duas vitórias presidenciais seguidas, além de formar maioria no Parlamento. Em 2018, o grupo se orgulhava de ter avançado para 100% do território nacional.

Esse é o tipo de movimento que o PT busca fazer no próximo ciclo eleitoral. O presidente da sigla, Edinho Silva, afirma que a meta principal é o público a ser “disputado”, que é o jovem da periferia. De acordo com ele, esse grupo forma um novo setor social que deve ser foco das políticas públicas. 

“A juventude da periferia hoje configura a nova classe trabalhadora brasileira. Que trabalha em aplicativos de transporte e entrega principalmente. Nós temos que apresentar soluções. O PT precisa ter a presença no território para conversar com essa nova classe trabalhadora e dar resposta para os anseios de um grupo que vai se formando e que vai incidir cada vez mais na política”, afirmou ao Brasil de Fato

Antes de alcançar uma reestruturação enquanto partido, o PT ainda tem um caminho a percorrer com eleições se aproximando. Para 2026, a meta é lançar candidaturas “onde for possível”. Ter mais governadores e prefeitos é parte importante dessa busca pela maior representatividade no território e influenciar no crescimento da estrutura partidária. 

A direção do partido entende que essa é uma das debilidades que ainda precisam ser superadas pelo PT nos próximos anos. Há também uma disputa ideológica interna entre correntes diferentes da sigla. A resolução apresentada pela sigla contempla essa disputa e levanta a necessidade de abarcar os movimentos populares no Brasil com o governo para garantir a vitória eleitoral. 

“Temos plena consciência dos desafios colocados: estimular as lutas sociais por direitos, fortalecer nosso enraizamento territorial, ampliar nossas bancadas, consolidar a unidade da esquerda e do campo democrático e assegurar a vitória de Lula em 2026”, diz o texto. 

Amigos de primeira hora

Uma crítica feita pela militância ao governo são as alianças firmadas com os partidos de direita, especialmente do centrão. Edinho Silva reconhece que essa é uma necessidade que poderia ser superada em outro contexto, mas que, hoje, o partido vai trabalhar as alianças não só a nível nacional, mas também nos estados e municípios. 

Uma das principais necessidades do PT é tentar aumentar a presença no Congresso. Hoje o partido tem dificuldade em aprovar projetos e precisa costurar alianças com siglas da direita para tentar avançar pautas, especialmente na Câmara. Algumas das negociações precisam ser costuradas até mesmo com partidos que fizeram parte do governo anterior. 

“Queremos ganhar 315 deputados”, diz Edinho em tom irônico. Mesmo sem ter uma estimativa, um dos grandes objetivos é ter mais do que os 80 deputados que tem hoje e que obriga o partido a fazer as alianças com o Centrão. 

Mesmo assim, Edinho Silva afirma que a sigla não se arrepende de ter apoiado a candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara. Ele entende que há um desarranjo institucional que começou na gestão de Rodrigo Maia na liderança da Casa Baixa. Esse “desequilíbrio” teve como principal sintoma o ganho de protagonismo do Congresso na governabilidade, inclusive na execução do orçamento a partir das emendas parlamentares. Isso força o PT costurar ainda mais alianças do que gostaria. 

Para o presidente do partido, essas alianças serão costuradas em cada estado de maneira diferente porque os partidos têm suas características específicas em cada lugar. Ainda assim, o PT não vai ter negociações eleitorais com a extrema direita.

“Vamos costurar alianças com o campo democrático brasileiro. Um governo de coalizão pode ou não integrar os projetos dos partidos. Temos que buscar os pontos de unidade para construir projetos no Congresso. Nós respeitamos as lideranças regionais, os partidos não são homogêneos em todo o Brasil e as alianças serão construídas em cada estado respeitando as particularidades e quem são os aliados de cada lugar”, afirmou.

Cálculo para a presidência

Na disputa presidencial, a aposta é reforçar as entregas que foram feitas por Lula. Melhoras nos indicadores econômicos, retomada de programas e investimentos públicos serão usados nas propagandas do governo. “Foram projetos importantes e um governo com entregas que apresentam condições favoráveis para essas eleições”, disse Edinho.

O principal adversário ainda é incerto. O campo bolsonarista lançou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho mais velho do ex-presidente. Ele, no entanto, disse que sua candidatura tem um “preço” e sugeriu que o Projeto de Lei que reduz as penas dos golpistas de 8 de janeiro seria a moeda de troca. 

“Não me preocupo com adversários da extrema direita. Nunca vi anunciar candidatura e, no dia seguinte, abrir para negociação. Não dá para levar a sério. O sentimento antissistema foi capitalizado pelo bolsonarismo, mas esse grupo não é uma síntese desse sentimento. Essa concepção estará em disputa em 2026. Enfraquecemos o bolsonarismo em 2022 e queremos enfraquecer em 2026”, afirmou”

O PT entende que a principal pauta será a segurança pública. Pesquisas indicam que esse tema é hoje o segundo que mais preocupa o eleitor brasileiro, atrás somente da saúde. A estratégia será mostrar que o partido está empenhado em discutir essa questão e apresentar soluções, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o PL Antifacção. 

Mas a resolução do partido apresenta dois pilares para a disputa de 2026. O primeiro é trazer o Estado como indutor do bem-estar, da garantia de direitos e do desenvolvimento econômico, aprofundando e atualizando políticas como a Nova Indústria Brasil, o PAC, a transição ambiental e energética. Dentro do que o PT chama de “reformas estruturais”, o partido também entende ser necessário defender uma “reforma tributária progressiva”.

O outro eixo é a reforma política. O PT avalia que essa relação não só com o Congresso, mas também com a sociedade exige mudanças na estrutura dos partidos. Segundo a sigla, a reforma é um instrumento “indispensável para aprofundar a democracia no Brasil”. O texto sugere mudanças no financiamento público de campanhas e o voto em lista com paridade e cotas etnorraciais.

“É por meio de partidos fortes, democráticos e programáticos que o sistema político pode se tornar mais representativo, mais estável e menos vulnerável ao fisiologismo e à captura oligárquica do Estado. Uma reforma política profunda é condição essencial para inaugurar um novo ciclo democrático e garantir governabilidade para qualquer projeto popular transformador”, afirma o documento.

As propostas para um novo mandato devem envolver renda, custo da cesta básica, moradia, emprego, primeira infância, formação técnica, ensino integral, tarifa zero, fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho, saneamento, cultura, paz, mobilidade e bem-estar das famílias.

Novas lideranças

Outro desafio é pensar no futuro. Mesmo que eleito, a próxima gestão deverá ser a última de Lula, já que, em 2030, ele já não poderá mais ser candidato. Com isso, o partido deve lidar com uma transição geracional. 

Isso, no entanto, não assusta Edinho. Ele afirma que o PT tem lideranças regionais que não foram expostas no cenário nacional e que podem acumular eleitoralmente. Camilo Santana no Ceará, Jaques Wagner na Bahia, e Rafael Fonteles no Piauí são alguns dos nomes mencionados. 

Créditos

You may also like