Quando o Natal tocar a porta do seu espírito, deixe-o entrar, sereno e puro. Deixe manar do seu coração a resposta do sorriso da plenitude de quem encontrou o Amor, como os anjos a cantar o Glória da exultação.
Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça – Chanceler da Diocese de Nova Friburgo
Quando o Natal bater a sua porta, não o rejeite. Ele precisa de você. Ele quer o seu abraço, seu coração aberto, sua alma livre e despojada em doação.
Quando o Natal estender a sua mão em busca de sua adesão e comunhão, não se feche, não o ignore, não se distraia com as luzes artificiais. Mergulhe no seu brilho inequívoco, o fulgor da Verdade. Ele não está no enfeite das ruas. Não está nos requintes das praças. Não está nas correrias das lojas , nem no barulho estonteante dos shows, das euforias das programações exteriores, do esbanjamento material, nem nas fachadas luxuosas das estruturas.
Quando o Natal silenciosamente olhar nos seus olhos e disser sem palavras da sua luminosa dignidade em amar sem nada exigir, de construir o presépio singelo e espiritual no interior da sua alma, com mais fraternidade e solidariedade, deixe-se conduzir por ele. No diálogo sincero com a sua sabedoria, é como se o tempo parasse, como se toda a natureza se pausasse para contemplar o nascimento do sentido mais profundo de toda a vida, de todo ser. Ele, muito simples e belo, nunca pregou riquezas, nunca ostentou grandezas. O Natal sempre foi simples, na pobreza de uma estrebaria, com o testemunho da alegria dos pastores, circundado pelos dóceis animais, com a generosidade dos magos que, peregrinos, demonstraram a felicidade da adoração, no encontro definitivo com a Luz.
Quando o Natal tocar a porta do seu espírito, deixe-o entrar, sereno e puro. Deixe manar do seu coração a resposta do sorriso da plenitude de quem encontrou o Amor, como os anjos a cantar o Glória da exultação. O Natal não é um desconhecido. Ele tem nome, tem rosto, tem uma rica história. Ele não tinha onde nascer, onde repousar a cabeça. Ele ainda hoje não tem. Seus pais não encontraram lugar nas hospedarias, uma simples habitação sequer. Ainda hoje muitos pais não têm. E muitos meninos e meninas não têm onde nascer e viver. Vivem nas ruas, sem alimento, sem vestes, sem carinho, sem nada.
Mas o Natal quer ser amado, abraçado, acolhido no seu interior. Ele quer fazer a ceia com você e sua família, da comunhão, da paz, da partilha, da fé, da consciência de que somos todos irmãos.
Já sabe qual o nome verdadeiro do Natal? Com certeza, já intuiu. Ele é bem transparente e claro. Mas também esquecido pelas gerações e sociedades embevecidas com o consumismo, com o materialismo, embriagadas com o hedonismo. O nome do Natal é Jesus. E quantas vezes nos lembramos disso? É Ele quem bate a nossa porta, para nos amar e nos dizer: “Você é valioso para mim. Você é filho de Deus. Você é herdeiro do céu. Seja simples, purifique o coração, abra as mãos e doe a vida pelos irmãos, como Eu doei por você”
E é o Cristo também pobre e necessitado que nos encontra, que nos move á caridade, repartindo a sua graça no amor ao próximo, como o menino humilde da manjedoura, como o homem-Deus salvador abriu os braços no altar da cruz para nos lavar com a sua misericórdia. O Natal tem o nome e o apelo de Jesus Cristo que ainda no rosto dos irmãos mais carentes nos convoca a mais simplicidade, sensibilidade e transformação social na justiça e na partilha solidária. E um dia o Cristo pobre nos agradecerá: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber. Era estrangeiro e me acolhestes. Estava nu e me vestistes. Estava doente e me visitastes, estava preso e fostes me ver.” (cf. Mateus 25,35-45). E poderemos perguntar: “Mas quando foi, Senhor, que fizemos tudo isso?”. E, sorrindo, nos responderá: “Todas as vezes que fizestes isso ao menor dos pequeninos, a mim o fizestes.” Este é o espírito do Natal. O Natal se chama Jesus Salvador, Deus é nossa salvação, Emanuel, o Senhor sempre conosco.
Vamos retornar a este espírito de mais concentração, oração, fé e confraternização, na comunhão da família, na celebração nas igrejas, na transmissão da caridade de Cristo a todos os irmãos da cidade, mudando o estado, o país , o mundo, comunicando a verdadeira alegria: “Jesus te ama! Nasceu e morreu por ti! Nós também te amamos e queremos o melhor para ti! Doamos nossa vida pela tua felicidade e salvação!” . Uma corrente de amor e fraternidade revolucionaria a nossa sociedade com a luz do Natal permanente, onde cada irmão renasceria, sendo valorizado e considerado pela dignidade de sua pessoa e não pelo que tem nos bolsos ou nos bancos, pelo que pode comprar ou vender.
Que primeiramente nos dediquemos a preparar o presépio do coração para receber o Salvador, a arrumar a casa da vida interior, a iluminá-la com o clarão do Espírito Santo, reacendendo as luzes apagadas pelo afastamento de Deus e dos irmãos, pelos nossos pecados. Vivamos o pleno Natal que é ser, é ver-se, mudar de vida. É dar-se, sem medida. É a presença de Deus em nós. Natal é Cristo!
