A retirada das sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes é vista pelo cientista político e professor Francisco Fonseca como “uma derrota simbólica” para a extrema direita brasileira. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele afirmou que, embora não seja a maior perda da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – posição que atribui à retirada das tarifas comerciais – o gesto tem peso político.
“A retirada de sanções, sobretudo ao ministro Alexandre de Moraes, tomado pela extrema direita como uma espécie de monstro, tem uma simbologia particular”, analisou. A medida devolveu aos ministros, que foram retirados pela Lei Magnitsky, a possibilidade de realizar transações em dólar e viajar aos EUA, algo que, como ressaltou o cientista político, “envolve a economia norte-americana, que é muito presente na vida brasileira”.
Fonseca lembrou que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que articulou as sanções contra o Brasil para tentar proteger o pai, preso por golpe de Estado, perdeu o seu principal trunfo político ao ver o presidente estadunidense Donald Trump recuar, enquanto o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) “é a figura da rachadinha”. Com o ex-presidente cumprindo pena e desgastado, o analista vê pouca capacidade de reorganização para 2026.
“O bolsonarismo está em declínio”, classificou, embora reconheça que a direita e a extrema direita ainda tenham força institucional e presença em governos estaduais. No âmbito nacional, ele apontou que o derretimento é visível no noticiário. “Fala-se cada vez menos em Bolsonaro. Trump já não fala em Bolsonaro”, observou.
O cientista político reforçou que a prisão de Bolsonaro é o principal fator ainda na perda de fôlego do movimento. “Você está tirando de cena um golpista, alguém que intentou um golpe de Estado”, indicou. Fonseca lembrou que Eduardo também corre risco de ser preso ao voltar ao país e que os demais membros da família têm enfrentado um desgaste crescente.
Paralelamente, ele avaliou que a atuação do Congresso, especialmente na aprovação do Projeto de Lei (PL) da Dosimetria “na calada da madrugada”, revelou uma direita em crise de legitimidade. “A direita está derretendo, não sabemos quanto”, disse, citando as manifestações previstas para o próximo domingo (14) como um possível ponto de inflexão.
Ao comentar a reação do governo brasileiro diante da retirada das sanções, Fonseca analisou que “o presidente Lula teve uma enorme habilidade de não polarizar com Trump e defender a soberania”. Para ele, a postura estratégica do governo, insistindo em separar temas comerciais de questões judiciais internas, foi decisiva para o recuo dos EUA.
“A Europa se dobrou aos Estados Unidos. O Brasil não se dobrou”, afirmou. O professor considerou a medida “uma grande vitória do governo Lula”, que reforça as instituições brasileiras e abre espaço para uma atuação mais firme do país na América Latina, especialmente diante dos recentes ataques e ameaças dos EUA contra a Venezuela.
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