Por Cleber Lourenço
A convocação de uma reunião de líderes em plena sexta-feira no meio da noite, quanto Brasília já estava praticamente esvaziada, expôs o grau de preocupação interna na Câmara dos Deputados diante de dois episódios sensíveis: a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso envolvendo a deputada Carla Zambelli e a operação autorizada pelo ministro Flávio Dino que teve como alvo uma ex-assessora ligada ao entorno do ex-presidente da Casa, Arthur Lira.
O encontro, considerado atípico por parlamentares, ocorreu fora da rotina do Congresso e foi interpretado como um sinal claro de que o tema mobilizou a cúpula da Câmara, especialmente a presidência. Nos bastidores, a avaliação é de que a reunião teve como objetivo alinhar uma resposta política e institucional diante da repercussão crescente do caso no Judiciário e no meio político.
Ao final da reunião, por volta das 23h, a presidência da Câmara divulgou uma breve nota à imprensa. No texto, Hugo Motta buscou se justificar em relação à operação, tentou afastar qualquer suspeita sobre a atuação da Casa e, ao mesmo tempo, atribuiu ao Poder Executivo a responsabilidade pela execução das emendas parlamentares, ao afirmar que cabe ao governo federal e aos entes federados a contratação, o pagamento e a liberação dos recursos.
Uma forma de, através da nota, tentar deslocar o foco das críticas para o Executivo, desconsiderando o contexto mais amplo da execução orçamentária e o papel político desempenhado pelo Parlamento na indicação, organização e direcionamento das emendas. A estratégia, avaliam interlocutores, não elimina o desgaste institucional gerado pelo caso nem reduz a pressão sobre a Mesa Diretora.
Tensão na Câmara
O episódio ocorre em meio a um ambiente de tensão adicional provocado pelo prazo de 48 horas para o cumprimento da decisão do STF que determinou a cassação de Carla Zambelli, prazo que se encerra neste domingo (14). Apesar disso, Motta já indicou a interlocutores que pretende se manifestar formalmente sobre o tema apenas na segunda-feira, o que tem sido interpretado como uma forma de Motta querer reafirmar força diante do STF e marcar posição.
Parlamentares avaliam que o eventual descumprimento da decisão judicial pode gerar responsabilizações diretas, incluindo a possibilidade de afastamento do comando da Casa. Às vésperas do encerramento do ano legislativo, a sucessão de episódios reforça a percepção de que a crise ultrapassou o campo administrativo e passou a mobilizar o núcleo político da Câmara dos Deputados.
