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A nova transferência de responsabilidade da carteira da Unimed Ferj foi proposta nesta segunda-feira pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a dirigentes das duas Unimeds em uma reunião tensa, de quase quatro horas, na sede da agência, no Rio. Também participaram do encontro representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública Estadual do Rio de Janeiro.
Atualmente, a Unimed do Brasil atua apenas como representante institucional das cooperativas que formam o Sistema Unimed. Por isso, não está claro se a Unimed do Brasil vai assumir a operação da carteira da Ferj ou se entregará a administração à outra Unimed do sistema.
Segundo a ANS, o acordo não é de transferência de carteira, mas de compartilhamento e risco, mas a forma como isso será operacionalizado ainda não está definido pela Unimed do Brasil.
Diretor-presidente da ANS, Wadih Damous afirmou ao GLOBO que, seja qual for a opção, a Unimed do Brasil terá 20 dias para viabilizar a transição.
— Perguntei a eles se o tempo seria suficiente, e disseram que sim, mas os consumidores têm que entender que isso é um processo — afirmou. — Se vão fazer isso através da CNU (Central Nacional Unimed, operadora de atuação nacional) ou de outra singular, não sei, mas fica assegurado o atendimento aos beneficiários tendo em vista a impossibilidade de a Ferj honrar suas dívidas.
Como situação chegou a esse ponto?
A medida acontece um ano e meio após o envio dos usuários da então Unimed-Rio (que atendia usuários da capital e de Duque de Caxias) para a Unimed Ferj, que antes atuava não como operadora, mas apenas como entidade representativa das Unimeds fluminenses.
A primeira migração dos consumidores, em 2024, acordada pela ANS e outras autoridades, se deu após mais de uma década de crise financeira pela Unimed-Rio.
O quadro, porém, não melhorou. De lá para cá, os problemas se acumularam. Médicos cooperados relatam atrasos nos pagamentos e passaram a recusar atendimento aos usuários. Os profissionais são vinculados à Unimed-Rio, que paga os honorários a partir dos repasses da Ferj. No entanto, os médicos não vinham recebendo de nenhuma das duas.
Quanto a Unimed deve a médicos e hospitais no Rio?
O total devido aos médicos não é conhecido. Segundo a Associação de Hospitais do Estado do Rio (Aherj), só os débitos da Unimed com unidades de saúde passam dos R$ 2 bilhões. O passivo, porém, não foi incluído no acordo de transferência para a Unimed do Brasil, segundo Wadih Damous.
— A dívida é um problema do Sistema Unimed, e não da ANS. A gente não vai entrar em problema interno, a gente quer assegurar o atendimento — afirmou ontem o diretor-presidente da ANS.
A Unimed do Rio também soma dívidas com o governo. No mês passado, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) firmou um acordo com a Unimed-Rio para o pagamento de cerca de R$ 2,1 bilhões em dívidas tributárias. A negociação também incluiu a Unimed Ferj, que assumiu os usuários da ex-operadora no ano passado. O Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, foi dado como garantia da transação.
O acordo garantiu um desconto de 45% sobre o valor total em débito. Outros R$ 95 milhões em dívidas previdenciárias foram parcelados em 60 meses, e os não previdenciários, que somam R$ 355 milhões, em 145 meses.
Como está o atendimento atualmente?
Os cerca de 370 mil usuários — a carteira ficou 20% menor desde a migração — veem a rede credenciada reduzir. Em fevereiro, a Rede D’Or deixou de aceitar pacientes da operadora. Em setembro, o pronto-socorro dos hospitais Pró-Cardíaco (Botafogo), Vitória (Barra), São Lucas (Copacabana) e Santa Lúcia (Botafogo), todos da Rede Américas, também suspenderam a cobertura.
A situação ficou ainda mais sensível com a saída da Oncoclínicas, que atendia cerca de 12 mil pacientes oncológicos da Unimed Ferj. Os usuários foram redirecionados ao Espaço Cuidar Bem, unidade própria da operadora em Botafogo, mas um alto volume de reclamações sobre o local foi registrado.
