A adoção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como um instrumento de diagnóstico da educação básica pode gerar distorções importantes na leitura dos resultados já em 2026, alerta Cláudia Costin, presidenta do Instituto Salto. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ela explicou que o comportamento dos estudantes na prova, que tem uma alta competitividade, produz um tipo de engajamento que não ocorre em avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), tradicionalmente usadas para medir a qualidade do ensino.
“O ideal seria separar as duas coisas”, afirmou. Embora não considere um erro aplicar o Enem com esse objetivo, Costin acredita que o novo arranjo tende a dificultar as comparações entre os anos, já que são avaliações diferentes. “Nós temos um risco de ter a impressão de que houve um salto do último Saeb para o próximo Enem”, explicou.
Costin também comentou o episódio de anulação de questões do Enem por suspeita de vazamento e afirmou que o modelo de pré-testes, usado há anos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), precisa ser superado. “Esse risco existe sempre”, afirmou, lembrando que vazamentos ocorreram em outras edições.
Para ela, a solução é acelerar a migração para o formato digital e abandonar o pré-teste, adotando tecnologias já consolidadas em avaliações internacionais. “O Brasil já está na hora de passar o Enem para meio digital e usar a inteligência artificial para calibrar as questões”, defendeu.
A especialista citou como exemplo o SAT, exame usado nos Estados Unidos para o ingresso de jovens na universidade, que funciona de forma adaptativa. “Quanto mais respostas do bloco mais complexo ele der, mais pontuação ele ganha. E quem corrige é a inteligência artificial”, indicou.
Sobre a proposta de levar o Enem ao Mercosul, Costin considera a medida alinhada à tendência global de internacionalização das universidades, mas julga como “provinciano” o estabelecimento de restrições, rebatendo o discurso de que a abertura “vai tirar vagas de brasileiros”. Para ela, a presença de estudantes de outras culturas fortalece a formação dentro das instituições de ensino.
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