No mesmo dia em que decidiu aprovar a redução de pena de golpistas, a toque de caixa, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba, autorizou a Polícia Legislativa a expulsar e agredir jornalistas.
Como demonstram os vídeos que rapidamente se espalharam pelas redes sociais, jornalistas foram agredidos e esculachados no final da tarde de terça-feira, 9, com o objetivo de cumprir a ordem de Motta: censura.
Censura é a única palavra que pode descrever a ordem do presidente da Câmara para desligar o sinal de transmissão ao vivo da TV Câmara e expulsar os jornalistas do plenário Tudo para impedir a cobertura de um protesto do deputado federal Glauber Braga, do PSOL do Rio de Janeiro, que ocupou a cadeira da presidência.
As cenas da expulsão da imprensa aconteceram em clima de estado de exceção: puxão de cabelo, empurrões, murro na barriga e ataque de pânico. “Pega aí porra! Você tem que sair! É uma ordem”, gritou um policial parlamentar durante uma transmissão ao vivo.
“Eu fui empurrada quatro vezes. Puxaram o cabelo de uma colega que estava do meu lado, uma produtora de uma TV levou um soco na barriga. Foi uma situação totalmente desproporcional. Eu nem consegui ver as imagens depois de tão horrível que foi”, me relatou uma das jornalistas agredidas.
Mas a escalada violenta da polícia de Hugo Motta começou ainda em agosto, quando o repórter do site Metrópoles, Manuel Marçal, questionou Motta sobre um esquema de “rachadinhas” que funcionaria dentro de seu gabinete e foi empurrado com truculências por seguranças para longe do parlamentar. O esquema é investigado pelo Ministério Público Federal.
Durante as semanas e meses seguintes, episódios de violência e cerceamento contra a imprensa na mesma linha se repetiram. Entre os casos, o uso de um “paredão” de seguranças impedindo perguntas de jornalistas e até repórter sendo segurada violentamente pelo pulso para impedir filmagem do presidente da Câmara.
Casos eram públicos, mas nenhum veículo quis divulgar ou repudiar os casos. Só o Intercept
Os casos eram públicos e circulavam em grupos de WhatsApp de jornalistas de Brasília. Mas nenhum veículo considerou divulgar ou repudiar os casos. A situação só veio a público quando denunciada pelo Intercept em um reportagem publicada na edição de 9 de setembro da newsletter Cartas Marcadas.
À época, a assessoria de Hugo Motta até lamentou os episódios divulgados pela nossa reportagem e prometeu soluções em comunicados internos. No entanto, em conversas reservadas com outros jornalistas, a equipe do presidente da Câmara culpou as vítimas, sugerindo que os jornalistas teriam se excedido na forma de se aproximar de Motta.
Desde então, os episódios de violência contra jornalistas vinham sendo tratados a portas fechadas em reuniões entre representantes de Hugo Motta, das polícias legislativas e de jornalistas.
Episódios de violência contra jornalistas vinham sendo tratados a portas fechadas.
Depois do show de horrores contra jornalistas e até deputados que também foram agredidos durante o tumulto, o autoritarismo de Motta continuou evidente. Durante a votação do texto que diminui as penas de golpistas, ironizou falas de parlamentares de esquerda e chegou a dar uma risada após cortar o microfone da deputada Fernanda Melchiona, do PSOL do Rio Grande do Sul, que denunciava justamente as agressões contra a imprensa.
Durante a madrugada de terça-feira, um auxiliar de Hugo Motta disse para o representante dos jornalistas da Câmara que Motta estaria “indignado” com a violência. Colocar panos quentes e tratar as agressões contra jornalistas como pauta interna não intimidou os seguranças do presidente da Câmara. Resta saber o que será feito daqui pra frente diante de um Centrão que não vê problemas em reviver práticas da Ditadura.
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