Com vitória unânime no STF (Supremo Tribunal Federal) em julgamento virtual encerrado nessa terça-feira (25), a deputada Iracema Vale (PSB) acumulou força política suficiente para se firmar como nome decisivo na sucessão do governador Carlos Brandão (sem partido) em 2026, encerrando a incerteza jurídica que a oposição utilizou para questionar sua legitimidade à frente da Assembleia Legislativa do Maranhão.
Os dez ministros da Corte votaram pela constitucionalidade do critério de idade usado para desempatar a eleição de novembro de 2024, quando Iracema e Othelino Neto (Solidariedade) receberam 21 votos cada. A ação do Solidariedade chegou a ganhar fôlego quando o ministro Alexandre de Moraes sinalizou um voto parcialmente divergente e quando Luiz Fux pediu destaque para levar o caso ao plenário físico, o que poderia mudar o rumo do julgamento. Fux, porém, desistiu do destaque no início de novembro, e Moraes votou com a maioria.
Flávio Dino, ex-governador do Maranhão e amigo íntimo de Othelino Neto (o deputado esteve no casamento do ministro em 2024), poderia ter se declarado impedido de julgar o caso, mas não o fez. Votou com a relatora Carmen Lúcia, assim como o presidente do STF, Edson Fachin, o último a se manifestar.
O resultado segue o entendimento manifestado ainda em fevereiro pela AGU (Advocacia-Geral da União) e pela PGR (Procuradoria-Geral da República), que opinaram pela improcedência da ação. O advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado pelo presidente Lula para ocupar a 11ª cadeira do Supremo, na vaga aberta com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso, argumentou à época que o critério etário está em harmonia com a Constituição, que prevê o mesmo mecanismo para desempate em eleição presidencial.
Iracema evitou triunfalismo ao comentar o resultado. “O placar de 10 a 0 não é uma vitória minha. Sempre se tratou de uma vitória da Assembleia Legislativa do Maranhão”, afirmou durante discurso no plenário, prometendo falar com mais profundidade nesta quarta-feira (26).
A cautela no discurso, porém, não esconde a dimensão do resultado. Primeira mulher a presidir a Assembleia maranhense em 190 anos de história da Casa, Iracema é aliada de primeira hora de Brandão e foi a candidata do governador para comandar o Legislativo estadual. Desde que assumiu a presidência, em fevereiro de 2023, garantiu harmonia entre os poderes e assegurou a aprovação dos principais projetos de interesse do Palácio dos Leões, tornando-se a parlamentar de maior confiança do mandatário.
Agora, blindada juridicamente, ela chega ao momento mais decisivo da sucessão estadual em posição de força. Desde junho, quando Brandão definiu que ficará no cargo até dezembro de 2026 e apoiará a candidatura do sobrinho Orleans Brandão (MDB) ao governo, a presidente da Assembleia assumiu publicamente o papel de principal articuladora do projeto.
Em entrevistas e eventos pelo interior, Iracema declarou preferência por Orleans e atraiu para o grupo o deputado federal Aluísio Mendes (Republicanos), que até então orbitava Eduardo Braide (PSD). Apesar de liderar em intenções de votos em quase todas as pesquisas eleitorais, o prefeito de São Luís não está confirmado na disputa pelo governo, e viu seu principal padrinho político migrar para o projeto do Palácio dos Leões após costura direta de Iracema. Ela também levou para o palanque de Orleans o senador Weverton Rocha (PDT), que busca a reeleição para o posto.
O protagonismo rendeu a Iracema um lugar nas conversas sobre a composição da chapa majoritária. Conforme o Atual7 revelou em junho, há negociações para que a deputada ocupe a vaga de vice na chapa de Orleans, pelo PT (partido ao qual já foi filiada), pelo MDB ou pelo União Brasil. Se a chapa for confirmada e eleita, Iracema deixará de ser a terceira e passará a ser a segunda na linha sucessória estadual.
Hoje, como presidente da Assembleia, ela assumiria o Palácio dos Leões apenas em caso de vacância simultânea do governador e do vice Felipe Camarão (PT). Como vice-governadora, bastaria uma licença de Orleans para que ela sentasse na cadeira.
