> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.
O CEO da Tesla, Elon Musk, admitiu se arrepender em alguma medida da decisão de entrar no governo do presidente americano Donald Trump e de ter liderado o departamento de eficiência governamental “DOGE”, durante entrevista ao podcast da influencer conservadora Katie Miller.
A participação de Musk na gestão Trump gerou danos de imagem à Tesla, com protestos contra ele e suas iniciativas empresariais que incluíram até a destruição de veículos elétricos da companhia mais famosa do multibilionário empresário.
Questionado sobre o DOGE, Musk disse que os esforços do departamento para cortes de gastos “tiveram um pouco de sucesso”, mas, pressionado sobre se faria tudo de novo, respondeu negativamente. “Eu acho que não… ao invés do DOGE, eu teria, basicamente, construído… trabalhado em minhas companhias”. “Não teriam ficado queimando os carros”, acrescentou, em tom de lamento.
A aventura de Musk no governo Trump também terminou em desentendimentos públicos entre ele e o presidente, depois que o dono da Tesla se colocou contra o projeto que Trump apelidou de “Big Beautiful Bill”, embora os dois tenham trocado falas mais amenas um sobre o outro mais recentemente, o que parece indicar que não restou mágoa do episódio.
A Oracle enfrenta crescentes preocupações no mercado devido à sua forte dependência de um único cliente no segmento de computação em IA: a OpenAI. O acordo de US$300 bilhões para fornecer serviços de nuvem à criadora do ChatGPT representa a maior parte das receitas comprometidas em contratos – embora não reconhecidas em termos contábeis – e quase nove vezes sua receita anual atual — proporção muito superior à de concorrentes como Microsoft, Google e Amazon. Essa concentração de risco tem penalizado as ações da Oracle, que acumularam queda de cerca de 32% nos últimos três meses antes do balanço, refletindo temores de que a OpenAI não consiga cumprir integralmente seus compromissos em meio à intensa competição no setor de IA.
No relatório fiscal do segundo trimestre, divulgado nesta semana a Oracle registrou crescimento de 14% na receita (para US$16,1 bilhões), o melhor em quase três anos, impulsionado pela receita do segmento de nuvem, mas abaixo das expectativas de Wall Street. As receitas a serem reconhecidas contabilmente adicionaram quase US$68 bilhões com novos contratos, incluindo Meta e Nvidia, embora grande parte já tivesse sido antecipada previamente pela companhia.
No entanto, o destaque negativo foi o gasto recorde de US$12 bilhões em capex no trimestre, elevando a projeção anual de US$35 bilhões para US$50 bilhões — equivalente a 75% da receita projetada para o ano, contra média histórica de 17%. Esse nível agressivo de investimentos, financiado em parte por dívida (dívida líquida de cerca de US$88 bilhões), contrasta com rivais mais capitalizados e alimenta dúvidas sobre a sustentabilidade financeira.
A Moody’s destacou a Oracle como a hyperscaler com maior exposição à OpenAI e métricas de crédito mais fracas. Embora a empresa reafirme a meta de dobrar o negócio com IA nos próximos anos, o balanço não dissipou as ansiedades, resultando em queda adicional de cerca de 12% nas ações após o pregão. Para gestores e investidores, o caso Oracle ilustra os riscos da “aposta tudo” em IA: alto potencial de crescimento, mas com execução dependente de poucos clientes de grande porte e margens pressionadas no curto prazo. Diversificação do backlog e sinais claros de monetização da OpenAI serão cruciais nos próximos trimestres para restaurar confiança, especialmente em um ambiente onde concorrentes como Google (com Gemini) e Anthropic ganham terreno.
Um navio-tanque carregando 700 mil barris de petróleo da Rússia, extraídos pela Rosneft, sancionada recentemente pelos Estados Unidos, foi parar em águas chinesas após uma longa jornada que envolveu uma transferência entre navios na Índia e uma breve parada na Coreia do Sul, evidenciando como as medidas americanas tornaram incerto o comércio do petróleo russo, com compradores evitando o produto para não receberem punições de Washington, segundo reportagem da Bloomberg que acompanhou o trajeto.
No momento da publicação da reportagem, ainda não era possível concluir se a carga pôde ser descarregada em algum lugar após 11 semanas de jornada. O vai e vem do petróleo da Rosneft já durava um mês a mais que tradicionalmente visto nos embarques russos.
As sanções à Rosneft, aprovadas por Trump, foram uma tentativa de forçar a Rússia a negociar um fim para a guerra na Ucrânia, ainda sem sucesso, mas com impactos efetivos sobre a indústria petrolífera. Em relatório neste mês, a Agência Internacional e Energia (IEA) apontou que exportações de petróleo russo caíram em cerca de 400 mil barris em novembro, como resultado das sanções.
Marcos Galperin, aos 54 anos e com uma fortuna estimada em US$10 bilhões, é o fundador da MercadoLibre, a empresa mais valiosa da América Latina (US$105 bilhões de valor de mercado) e o único caso global de uma companhia pública que entrega 27 trimestres consecutivos de crescimento de receita acima de 30%. Diferentemente da maioria dos bilionários tech, ele vive uma vida quase anônima em Montevidéu, sem seguranças, dirigindo seu próprio carro e frequentando feiras locais — um contraste brutal com a exposição que teria em Buenos Aires – e foi alvo de um perfil da Bloomberg nesta semana.
No fim de 2025, Galperin deixará o cargo de CEO após 26 anos, passando o bastão para Ariel Szarfsztejn, e assumirá o posto de chairman. A decisão, tomada em meio a lágrimas e questionamentos pesados do board, foi deliberadamente feita no auge do desempenho da empresa — exatamente para evitar o destino de fundadores que saem derrubados por crise ou escândalo. “Queria controlar o processo”, diz ele. Essa escolha por privacidade e liberdade reflete uma filosofia rara entre fundadores: o poder real está em decidir quando e como abrir mão do comando, não em agarrá-lo eternamente.
A lição para C-levels é cristalina: a melhor sucessão não é a que acontece quando você precisa, mas quando você ainda pode ditar os termos. De um clone argentino do eBay em 1999, Galperin construiu um ecossistema que combina o maior marketplace da região com o Mercado Pago, hoje usado por mais de 70 milhões de pessoas e que está obtendo licenças bancárias para competir de frente com os bancos tradicionais. Criou frota própria de aviões, mais de 30 centros de distribuição e escalou o número de funcionários de 10 mil para mais de 100 mil pessoas– um aumento de dez vezes desde o pré-pandemia. Enfrenta Amazon, Nu, Temu e Shein simultaneamente, mas responde com a frieza de quem já transformou concorrência em combustível: “Somos uma empresa muito melhor por causa deles”.
Fora dos negócios, Galperin emerge como uma das vozes mais potentes do liberalismo econômico na América Latina: apoia abertamente Javier Milei, elogia o respaldo de US$20 bilhões do governo Trump à Argentina, defende meritocracia sem rodeios e não hesita em criticar imigração descontrolada, cultura woke e jornalismo enviesado em seu X. Flerta com a política — “aprendi a não dizer nunca” — mas, por enquanto, canaliza sua energia para o próximo ato na MercadoLibre: usar IA para transformar o Mercado Pago no “melhor private banker do mundo” para o cidadão comum. Um fundador que saiu do operacional no topo, sem abrir mão da influência, da ideologia ou da ambição de seguir mudando seu continente.
Parlamentares com milhões de seguidores nas redes sociais, no topo das interações no “X” e no Instagram, não têm uma atuação assim tão profícua fora das telinhas— muito pelo contrário, inclusive, mostrou a Agência Pública em reportagem com um levantamento sobre deputados que incluem nomes de oito diferentes partidos.
A pesquisa citada na matéria da Pública, realizada pela Zeeng, mostra nomes associados à direita como Nikolas Ferreira (PL), o “campeão” de audiência, além de André Fernandes (X), e políticos associados ao campo da esquerda, como Erika Hilton, Eduardo Bolsonaro, André Janones e até Eduardo Boulos, hoje ministro do governo Lula, entre os que muito falam e pouco aprovam em propostas.
Os deputados que “bombam” nas redes sociais aprovaram entre nenhum e quatro projetos de autoria própria cada no atual mandado, iniciado em 2023, apesar de todo o barulho. André Fernandes e Eduardo Bolsonaro aparecem na lista dos que não levaram nenhum PL adiante, enquanto Erika Hilton à frente com seus singelos 4 projetos, dos quais um é considerado “simbólico”, por tratar apenas da inscrição da escritora Carolina de Jesus no “livro de heróis e heroínas”. Boulos e Nikolas empatam com um projeto de lei aprovado cada.
Os Estados Unidos estão perdendo rapidamente a superioridade militar que mantiveram por 80 anos e correm o risco de serem derrotados por China e Rússia em um eventual conflito de grande porte, especialmente em uma guerra por Taiwan, alerta o The New York Times em editorial especial recheado de infográficos.
O texto cita um relatório secreto do Pentágono chamado “Overmatch” que simula uma guerra com a China, citando rumores de que o país oriental estaria se preparando para capturar Taiwan até 2027, e concluindo que os EUA perderiam em quase todos cenários. Os chineses já neutralizariam aviões, porta-aviões e satélites americanos nos primeiros dias, segundo a inteligência dos próprios americanos.
O problema não é só a China, aponta o NYT: o modelo americano de guerra — baseado em armas caríssimas, complexas, mas limitadas em termos de unidades disponíveis, como porta-aviões de US$ 13 bilhões e caças F-35 — tornou-se obsoleto frente a armas baratas, produzidas em massa e tecnologicamente avançadas, como drones de algumas centenas de dólares, mísseis hipersônicos, enxames de barcos suicidas e submarinos silenciosos etc, como ficou evidente na Ucrânia.
Nos jogos de guerra citados pelo Pentágono, porta-aviões como o USS Gerald R. Ford são afundados rapidamente. Mesmo assim, a Marinha planeja construir mais nove da mesma classe e os EUA ainda não têm um único míssil hipersônico operacional, enquanto a China já tem cerca de 600. O NYT destaca ainda que os EUA teriam perdido a capacidade de produzir munições e equipamentos em grande escala e velocidade. Em uma guerra longa, esgotariam estoques críticos em semanas — só a ajuda a Israel teria acabado com 25% dos interceptores de mísseis. O editorial critica tanto governos democratas quanto republicanos por continuarem investindo no modelo antigo, e defende que os EUA precisam urgentemente de uma reinvenção profunda caso não desejem uma China militarmente superior na Ásia e uma Rússia mais ousada na Europa ameaçando a liberdade e a prosperidade do mundo ocidental.





