As captações dos fundos negociados em bolsa (ETFs) de bitcoin, que antes tinham um fluxo constante de entrada, estão desaparecendo. Para um mercado que trata esses sinais como verdade absoluta, essa mudança está alimentando temores de que a queda das criptomoedas ainda tenha muito a percorrer.
Investidores retiraram quase US$ 1 bilhão de ETFs que acompanham o bitcoin na última quinta, o segundo maior fluxo de saída diário já registrado para o grupo de 12 fundos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O fundo de bitcoin da BlackRock teve uma saída de US$ 355 milhões, seguido pelo da Grayscale e pelo da Fidelity, que perderam quase US$ 200 milhões cada. O grupo teve o pior fluxo semanal desde fevereiro.
Com investidores retirando quase US$ 4 bilhões desses fundos no último mês e o bitcoin caindo cerca de 30% desde então, os ETFs se tornaram um indicador monitorado de perto para a gestão de riscos tanto em mesas de varejo quanto institucionais.
Embora os fluxos de entrada ajudem a impulsionar o preço do bitcoin, o oposto também é verdadeiro. Cada US$ 1 bilhão retirado de ETFs de bitcoin equivale a uma queda de aproximadamente 3,4% no preço da criptomoeda, de acordo com uma análise de Alex Saunders, da Citi Research.
“Considerando que os investidores de longo prazo estão cautelosos e os novos investidores não têm pressa, os fluxos podem não aumentar tão cedo”, disse Saunders, que havia estabelecido um alvo pessimista de US$ 82 mil para o bitcoin no final do ano. A maior criptomoeda oscila atualmente em US$ 85 mil, após atingir a mínima de US$ 80.553 na sexta-feira.
As criptomoedas em geral estão sob pressão há mais de um mês, desde que um evento de liquidação repentina eliminou trilhões de dólares em posições alavancadas e levou a uma espiral descendente nos preços. Ao mesmo tempo, os investidores estão preocupados com os “valuations” esticados de empresas de inteligência artificial (IA) e com a falta de clareza em relação ao caminho dos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano). Como resultado, o bitcoin, um ativo de risco negociado 24 horas por dia, 7 dias por semana, conseguiu subir por apenas 18 sessões desde 10 de outubro.
O token está caminhando para seu pior desempenho mensal desde 2022, quando uma série de falências corporativas abalou o setor de criptomoedas em geral. Investidores em fundos que oferecem acesso direto à criptomoeda recentemente se viram com perdas coletivas depois que o bitcoin caiu abaixo de US$ 89.600.
Até outubro, os investidores haviam investido em todos os tipos de tokens e produtos de criptomoedas, na expectativa de que o governo Trump trabalhasse para continuar a integrar o setor ao sistema financeiro tradicional. Embora as instituições tenham aceitado o setor em maior grau do que nunca, os investidores de varejo ainda representam uma grande base de investimentos. Esse grupo detém aproximadamente três quartos dos ativos de ETFs de bitcoin à vista, de acordo com uma análise da Bernstein.
“Muitos no setor não aguentam mais um ciclo de criptomoedas”, escreveu Ilan Solot, estrategista da Marex Solutions. “Eles já tiveram o suficiente, tanto financeira quanto emocionalmente.”
